Como se posicionar dentro do coro no canto coral?

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Cantores têm preferência por determinadas posições no coro, e isso implica em muitas situações. Algumas agradáveis outras... nem tanto.

Contato com o maestro

Primeiramente, é necessário ter contato constante com o líder. Jamais posicione-se atrás de uma cabeça ou de um cabelo armado. Mesmo em grupos grandes, normalmente há um espacinho entre as cabeças, procure esse vão e mantenha o foco no maestro. Caso não consiga vê-lo, sinalize e peça para trocar de lugar.
Alguns regentes preferem que os cantores olhem para sua face, eu, particularmente, prefiro que olhem para as minhas mãos e para o meu corpo. O reflexo da respiração no tórax é um importante aliado na comunicação, favorecendo a respiração conjunta e trazendo maior precisão e caráter ao ataque. Não é suficiente observar apenas a face, mas também o corpo, buscando uma comunicação global. Portanto, ao se posicionar, certifique de que está vendo o maestro por inteiro.

Não se esconda!

Alguns cantores, quando estão inseguros, cantam tentando se esconder atrás de um colega, preferem sentar distante do maestro para não se expor. Esta é uma das piores atitudes a se tomar. Nos casos de apresentações, se não se sente seguro a ponto de querer se encafuar, é melhor que não cante. Nos ensaios, o maestro é um dos poucos que podem lhe auxiliar: manter os olhos nele pode ajudar nos momentos de dificuldade, afinal, ele está ali para ajudar. Questões rítmicas, entradas, articulações, respirações e outras informações estão presentes no gestual do regente competente. Olhar os gestos atentamente traz mais segurança. Ao se esconder, o cantor não terá este apoio e, consequentemente, falhará ainda mais vezes.
Também é função do regente advertir sobre o problema de estar demasiado inseguro enquanto os outros cantores estão cantando sem dificuldade. Leve as críticas desse tipo como algo que visa o aprimoramento. Ao esconder-se, o cantor está fazendo um gesto de fuga e, assim como toda equipe, o coro precisa de todos presentes e atuantes. Mesmo que tenha dificuldade, foque no trabalho, não fuja dele. Cada voz tem sua importância. Um dia de ensaio ruim é normal, o problema é assumir isso como natural.
Só o cantor que se esconde acredita mesmo que está se ocultando, pois plateia e maestro sabem muito bem observar quem está por inteiro na apresentação/ensaio ou não. No fim, esconder-se acaba sendo uma atitude um tanto embaraçosa, visto que todos percebem que o cantor está tentando se encobrir. No ensaio ou no palco, mantenha a dignidade, encare o maestro/público e faça o melhor possível.

Bengalas

Muitos cantores, quando estão inseguros, preferem sentar ao lado de colegas mais experientes que conseguem manter sua linha melódica sem confundir com as outras. Essa tática funciona até certo ponto. Inclusive, quando percebo que um cantor está com muita dificuldade, procuro cercá-lo de cantores mais experientes dando-lhe mais apoio para mantê-lo em sua voz. Entretanto, isso não pode ser um posicionamento eterno. Em algum momento, o cantor precisa ter segurança de manter sua linha, até para transmitir confiança aos novos aspirantes e liberdade ao cantor experimentado, deixando-o à vontade cantando sua parte, sem se preocupar com quem tem dificuldade.
Cantores experientes não são bengalas que precisam estar eternamente ao lado de quem tem dificuldade. A diferença acústica e de posicionamento de palco que os espaços oferecem, necessitam da versatilidade do cantor, de modo que as mudanças de posicionamento não prejudiquem o rendimento do grupo. Nos ensaios, muitas vezes proponho a mudança de posição para explorar outras sonoridades. Muitas vezes descubro combinações que jamais conseguiria se o coro não estivesse naquela posição. A segurança dos cantores é determinante para esses experimentos funcionarem.

É uma questão de prática

É importante que o cantor iniciante sente próximo a alguém mais experiente quando está começando as atividades, mas sempre buscando, aos poucos, se afastar, de modo que ouça as outras vozes e não mais se preocupe em manter a própria linha melódica, mas harmonizar com as outras. Com a prática, o desconforto em ouvir outras vozes e manter a própria linha melódica diminui e descobrimos o prazer de cantar harmonizando. Quando estou cantando, prefiro sentar no meio do coro, próximo a todas as vozes, ou intercalado por outros naipes, concentrando-me apenas na combinação entre elas. Sei que é difícil, mas é a situação ideal e, na minha opinião, a única maneira de um coro afinar de verdade.

Concentração

A concentração é pessoal e necessita de paz interna. O cantor precisa ter atenção para alcançar os objetivos propostos. Para isso, precisa ter contato com o seu íntimo. Errar e esclarecer dúvidas com cantores experientes é necessário, mas não pode ser uma prática constante. É necessário respeitar a atenção deles. O cantor experiente pode ter boa vontade em ajudar, mas, se há sempre alguém ao lado com dificuldade, chega uma hora que passa dos limites e "enche o saco". Por isso, é sempre bom lembrar dos versos do grupo de pagode Só pra Contrariar: "sai da minha aba, sai pra lá...".

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Comentários

  1. Ainda tenho certa dificuldade de ficar na região de limite do naipe (no nosso caso, ao lado de um baixo).

    Acho que no fundo se resume a falta de segurança pra manter a propria linha melódica.

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  2. Muito bom o artigo! Vemos com frequência algumas das situações descritas acima. O regente deve ter toda a liberdade para posicionar os integrantes do Coro e é importante que todos tenham sempre condições de ver o corpo e as mãos do regente, que marcam o ritmo e a dinâmica da música. Estudar o repertório e participar dos ensaios proporcionarão seguranca ao cantor.

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