Corais que rejo: Coro de Câmara - Um coro de concerto formado nas bases da Associação de Canto Coral

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Um dos maiores desafios de minha vida foi reativar o Coro de Câmara da Associação de Canto Coral. Não porque o coro estava abandonado ou coisa do tipo, mas porque o direcionamento tomado pela instituição havia mudado e precisávamos fazer um grupo independente que atuasse durante todo o ano no cenário de concertos do Rio de Janeiro. 
O post de hoje é sobre o Coro de Câmara da Associação de Canto Coral.

Histórico

A Associação de Canto Coral foi fundada em 1941 com o objetivo de perpetuar a música coral no Brasil. Iniciou com um coro feminino formado por professoras graduadas pelo Conservatório de Canto Orfeônico, onde atualmente é o Instituto Villa-Lobos - UNIRIO. O repertório mais comum deste grupo era de canções folclóricas, populares e eruditas do Brasil e do mundo. A preponderância do repertório para formação à capela traz a este grupo uma característica camerística. 
A partir da década de 50, o coro ganhou corpo e recebeu vozes masculinas. Foram nove anos como um coro de câmara feminino. Com o crescimento, o grupo obteve dimensão sinfônica, mas o conjunto de câmara, com vozes seletas, continuou a existir com formação mista e sendo denominado “coro à capella”, informalmente chamado de “coro pequeno”. Portanto, quando os concertos tinham dimensões sinfônicas, acionava-se o coro sinfônico (coro grande) e quando o foco era camerístico, acionava-se o coro à capella, que era um desmembramento do coro grande, com a seleção de vozes adequadas para o repertório camerístico. Apenas nos anos 2000 o nome Coro de Câmara passou a ser adotado quando ocorreu o desmembramento do Coro Sinfônico. 
O Coro Sinfônico poderia ser considerado o grupo principal da ACC, pois fazia os principais concertos nos principais aparelhos da cidade e com obras de grande porte, entretanto, o coro à capella era o grupo que mais se apresentava durante o ano. O coro à capella fazia o triplo de apresentações, aproximadamente. Uma produção mais numerosa que garantia a qualidade do cantor nos concertos de maior porte, visto que o repertório camerístico exige alta consciência musical, especialmente quando se trata de um coro que normalmente fazia obras complexas. 
A denominação Coro de Câmara foi utilizada até 2011. Em 2012, com o intuito de reformulá-lo, as atividades do grupo cessaram. Houve duas tentativas frustradas de reativação e, na terceira, foi minha vez de tentar fazer o plano funcionar.

Estratégias de Reativação

Assumi a regência do coro de câmara em 2016 e foi muito difícil regimentar um grupo coeso e capaz de realizar repertório à capela no nível de exigência que honrasse a história da Associação de Canto Coral. Com a ajuda incessante da diretoria e do operacional da ACC, chamamos cantores de grupos iniciantes que estavam em boa fase e alguns amigos que pudessem reforçar e dar segurança ao conjunto. O núcleo do coro foi formado por cantores do Coro Oficina, do Tu voz, mi voz (que em 2016 ainda não fazia parte da ACC) e cantores convidados.
O grupo era imaturo musicalmente, mas tinha muita vontade de fazer bonito e confiança plena em meus métodos. Com o uso de áudios de estudo, aulas de técnica vocal e solfejo e muitos ensaios extras, o grupo ressurgiu. O primeiro concerto foi no casarão do Centro de Referência da Música Carioca, na Tijuca. A acústica do local era ótima e o gestor fez um praticável perfeito para nós. No dia, o casarão lotou e o grupo fez bonito. Ali o coro de câmara se afirmou!

Flyer de divulgação do concerto de estreia do Coro de Câmara sob minha regência

Produção atual

A estreia foi um sucesso, mas manter o grupo nunca foi fácil (até hoje não é!). No ano passado tive mais uma missão difícil: homenagear o Pe. José Maurício Nunes Garcia com a gravação das obras à capela. A escrita do padre, embora simples, possui condução vocal problemática e afinar o coro é muito difícil, especialmente com vozes ainda em formação. Mais uma vez contei com o suporte da diretoria, do operacional e dos regentes da ACC, e com a confiança dos cantores. O concerto de gravação foi um sucesso. A Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé lotou e o coro de câmara fez bonito, rendendo muitos elogios e uma gravação memorável das obras à capela do padre mestre. Orgulho imenso poder ouvir os LPs do coro da ACC do passado e poder confrontar com as interpretações atuais. Veja uma das obras apresentadas no concerto: 

2017 fechou com mais um desafio: o Gloria de Vivaldi. O coro fez bem, mas a Páscoa de 2018 que reservava um desafio maior: levantar o Credo e o Magnificat de Vivaldi em apenas três meses com um coro amador. Foi muito difícil. Reconheci o limite do coro nesta empreitada. Mas fizemos! E na Cidade das Artes tivemos a audiência de mais de 400 pessoas. 
Após a Páscoa apresentamos o Gloria novamente e ainda levantamos o Kyrie, para coro duplo. No total foram cinco concertos do coro de câmara na Série Vivaldi da ACC, todos feitos até o mês de maio de 2018. Uma produção em um tempo que poucos grupos amadores conseguem fazer no Brasil. 

Um trabalho de equipe

Toda esta produção acontece graças a um trabalho de equipe incessante, que busca dar o melhor possível apenas porque gosta da música coral. Os cantores gostam de fazer bem feito, a ACC dá todo o suporte operacional (e emocional também) e no fim tudo dá certo. 
Ainda temos muito o que aprender e sabemos que qualquer coral possui estrutura frágil e que precisa de manutenção constante. Por isso, tenho muito orgulho desse grupo ter surgido nas bases da Associação de Canto Coral, sendo formado por cantores amadores que amam a prática coral. Seu ressurgimento para mim é de grande valia já que, no passado, cantei nesse coro com a mesma paixão. Espero poder conduzi-lo por mais muitos anos.  

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Comentários

  1. Parabéns, maestro, por seu empenho e trabalho dentro de uma área tão difícil com o canto coral. Vou acompanhar.

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  2. Maravilha!!!Tenho muita vontade mas no momento nao tenho disponibilidade! Mas vou passar para o nosso coral esse importante convite!!!

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  3. Tenho muito prazer em participar deste Coro desde 2017 e o grupo vem realizando apresentações cada vez melhores! Uma das que considerei muito boa foi a que realizamos no Encontro de Corais da ACC no Teatro de Câmara da Cidade das Artes em 30 de junho de 2018. Com o esforço dos integrantes do Coro de Câmara e a dedicação do maestro, o Coro será em breve uma referência para a música coral! Agradeço à ACC e ao maestro Rafael Caldas pelas boas oportunidades que tenho tido com este grupo coral.

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