Suportes de Leitura de Partitura no Ensaio Coral - Smartfones, Tablets e eReaders
Tecnologia sempre
gera debate entre cantores e maestros. Muitos dizem ser uma negação no assunto,
outros estão sempre antenados nas novidades do mercado.
Neste post falarei
sobre os suportes de leitura que podemos usar no ensaio coral.
Suportes de Leitura
O anúncio sobre a
troca de aulas de letra cursiva e caligrafia por tablets na Finlândia causou
polêmica na área de educação. Muitos consideram a medida problemática, pois não
conseguem conceber uma escola sem lápis e borracha, onde as crianças, ao invés de
escrever, digitam. Outros acham a ação positiva, visto que os novos suportes de
escrita e leitura, em muitas conjunturas, são mais utilizados pelas crianças
que o caderno.
Lembro quando uma
amiga, ao prestar uma prova, declarou que já havia perdido a resistência para a
escrita à mão. Isso também ocorreu comigo prestando concursos públicos. Tenho
uma escrita muito forte e, quando preciso escrever durante muito tempo, minha mão
cansa. Além disso, digito muito mais rápido que escrevo e, assim, consigo
aproveitar melhor minhas ideias, sem perdê-las enquanto desenho as letras.
A atitude da
Finlândia é interessante, pois evidencia o fato de que o diferencial para
leitura e escrita não está no suporte, mas no processo de ensino-aprendizagem.
Quem imprime as
partituras de um coro sabe bem o quanto gastamos com papel e tinta para
confeccionar os materiais de estudo. Os impressos são mais onerosos, mais
pesados e ofensivos ao meio ambiente. Com suprimentos cada vez mais caros, os
cantores estão menos propícios ao uso do papel.
Hoje em dia, o
mercado conta com vários suportes de escrita e leitura que tendem a substituir
os meios convencionais. Os tablets, os smartfones e os ereaders estão entre os
mais populares nessa modalidade.
Smartfones
O smartfone é o mais
utilizado dos suportes. Quando um cantor não usa, imediatamente é visto como o
dinossauro do grupo e, em muitos casos, é constrangido a comprar um.
O WhatsApp se tornou
o principal meio de comunicação da atualidade e, por isso, não utilizá-lo
significa ficar alheio às informações do coro. Já vi cantores cotizando para
presentear os antiquados com um smartfone, garantindo que as notícias atinjam a
todos.
Sempre enviei os
comunicados e os materiais por e-mail, pelo WhatsApp e, até algum tempo atrás,
disponibilizava nos grupos do Facebook. Percebi que, com o tempo, os alunos
mais jovens não se preocupavam em levar o material impresso, mas acompanhavam
pelo celular. Inclusive, alguns dizem que preferem ler desta forma.
Imediatamente
pesquisei sobre o uso de smartfones em aulas de música e encontrei experiências
de vários lugares do mundo. Destaco o trabalho de um editor espanhol chamado Nancho Alvarez que disponibiliza gratuitamente as partituras com tamanhos otimizados para
celulares e tablets. Com ele aprendi que a melhor resolução para estes suportes
é de 170mm X 100mm e comecei a fazer versões de minhas edições neste tamanho.
Faço essas edições
apenas para as músicas curtas e com no máximo quatro vozes. Se tiver muitas
vozes e muita informação, o celular se torna um suporte muito pequeno e a
experiência é insatisfatória. Independente do tamanho da música, de quatro a
seis compassos o usuário terá que mudar de página e, dependendo do celular, o tamanho da partitura pode ser demais,
ficando mais fácil de se perder. Tenho minhas dúvidas se ensaiar uma obra com
mais de 50 páginas neste suporte daria certo.
Além disso, num
smartphone, qualquer esbarro pode causar um bug que, até a partitura voltar ao
ponto desejado, a música já acabou. Importante encontrar uma configuração que
permita mudanças de página com apenas um toque e que desligue a rotação
automática.
Os regentes que
pretendem usar smartfones para leitura de partituras durante o ensaio podem
abandonar a ideia. São muito pequenos e, apoiados em qualquer estante, só é
possível ler com olho biônico. Leitura de partitura no celular, quando
funciona, é com o aparelho constantemente nas mãos, portanto, serve melhor
aos cantores.
Tablets
Os tablets funcionam
de maneira muito parecida com os smartfones, mas com a vantagem da tela ser
maior. As edições otimizadas para o dispositivo funcionam melhor e os que
possuem tela grande suportam bem as partituras feitas para serem impressas.
A leitura em mais de
uma página é possível, mas tudo fica menor. É aconselhável ler uma página de
cada vez.
Os esbarros podem
causar bugs parecidos com o do celular e as desorientações em partituras longas
também podem ocorrer. Importante encontrar uma configuração que facilite a
leitura, ativando a mudança de página em um toque e desativando a rotação
automática após decidir se usará em formato retrato ou paisagem (vertical ou
horizontal).
Em algumas
situações, usar o tablet, pode ser uma boa pedida. Normalmente, utilizo quando
estou pesquisando partituras na internet e em ensaios de músicas curtas, com no
máximo quatro páginas, mas já vi pessoas usarem com obras maiores. Tem até corais e orquestras que substituíram o papel pelo tablet.
Arquivos e extensões mais comuns para partituras
O arquivo mais comum
para partituras digitais é o pdf. Normalmente, é oriundo da compilação de
várias imagens. Dependendo da resolução, fica pesadíssimo e até os aparelhos
carregarem a página desejada pode demorar um tempo. Se o leitor estiver usando
um aparelho com configuração fraca, o grupo estará umas três páginas à frente
quando aparecer o trecho desejado. Alguns aplicativos atenuam esse problema,
como o Adobe Reader, que possui um navegador de páginas que, arrastando, vai
direto ao ponto desejado. De qualquer forma, se a partitura for muito extensa,
o usuário terá problemas.
Encontrar partituras
em arquivos de imagens como o jpeg, png, gif e outros é comum, especialmente
quando a música se dispõe em apenas uma página.
Há também os
arquivos de softwares de edição de partitura, como o enc para o Encore, o mus
para o Finale, o mscx para o MuseScore, o sib para o Sibelius e outros. Alguns
desses softwares possuem aplicativos que melhoram a experiência do usuário em
aparelhos Android e IOS. Destaco o aplicativo do MuseScore que possibilita a
visualização de partituras no celular e tablet em uma nuvem que pode ser
compartilhada com usuários do mundo todo.
eReaders
Os ereaders
revolucionaram o mercado de leitores por não emitirem luz, não produzirem
reflexo e serem muito leves, pesando entre 100 e 200 gramas. Esses atributos
trazem maior conforto ao usuário. Quando leio nestes suportes, sinto que leio
mais em menos tempo.
O maior problema dos
ereaders é que os aparelhos mais
populares do mercado são muito pequenos para a leitura de partitura. Além
disso, muitos deles não possuem boa interação com arquivos pdf.
Normalmente, quando
lemos uma partitura no smartfone, damos um zoom na imagem e, conforme a leitura
avança, arrastamos para baixo. Se deseja ter essa experiência no ereader, pode
esquecer. Os ereaders usam tinta magnética e, cada vez que precisamos arrastar
uma imagem para cima ou para baixo, a tinta dispersa e depois se reorganiza:
tudo sai do lugar antes de voltar para a conformação desejada. Ninguém espera
que isso aconteça enquanto executa uma música. É caótico. Abandone essa ideia.
Se conseguir
acompanhar com a imagem estática, trocando de página em página, a experiência é
possível: já vi alguns cantores usarem dessa maneira sem perder rendimento no
ensaio. De qualquer forma, a navegação em partituras extensas é demorada e,
caso haja saltos para trechos distantes, o cantor terá problemas para se
encontrar.
Pelo mesmo motivo
dos smartfones, acho o uso de ereaders péssimo para o maestro: pequeno, lento e
impossível de enxergar se não estiver na mão.
Ao passo que
smartfones e tablets otimizam cada vez mais os recursos de anotações e
comentários, possibilitando escrita e desenho diretamente na tela, os ereaders
ainda estão engessados nesse quesito: os comandos que acionam as anotações,
grifos e comentários tiram o contato com a partitura e alguns modelos não
possuem este recurso para arquivos em pdf.
Há um novo ereader
no mercado que veio para suprir esta demanda: chama-se GVIDO. Este aparelho
trabalha com duas telas simulando duas páginas e permite anotações usando uma
caneta especial. É fabricado no Japão e custa 1600 dólares mais taxas de
importação. O iPad Pro mais avançado custa 799 dólares: metade do preço.
Portanto, pela diferença exorbitante de preço perante um dos tablets mais
sofisticados do mercado, considero que o GVIDO ainda não vale a pena. Quem sabe
no futuro...
E o papel?
Não posso esquecer
do suporte mais usado: o papel. A invenção do chinês Cai Lun é presente no
nosso dia a dia desde o ano 105 d.c. Nunca nenhum suporte de leitura ficou no
topo de preferências do consumidor durante tanto tempo! (rs)
Para mim, o papel
continua sendo o melhor suporte para leitura de partituras: é fácil de
manusear, rápido de organizar e possibilita anotações rápidas e objetivas.
Porém, adianto que os suportes virtuais são cada vez mais acessíveis e a
tendência é que o papel seja substituído.
Sonho com os dias
que poderei andar apenas com um suporte de leitura, onde tudo o que preciso
para os ensaios e aulas esteja disponível. Ainda não é realidade, mas minha
mochila está ficando cada vez mais leve.
E aí? Gostou do
artigo? Tem alguma experiência com suportes de leitura que queira dividir?
Fique a vontade para deixar um comentário.
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Boa noite Rafael!
ResponderExcluirMuito interessante e relevante o assunto abordado, Realmente a internet é uma ótima ferramenta e nos auxilia com seu dinamismo e praticidade.
A natureza e as nossas costas vão bater palmas para a tecnologia, isso ja tem acontecido e como dito nessa postagem a tendência é que aumente cada vez mais.
Grande abraço!
Obrigado!
ExcluirUm abraço!
Muito legal. Os tablets e smartphones estão vindo para, aos poucos, reduzir o consumo do papel, mas, muitas das vezes, prefiro papel também. Mas a praticidade de transporte dos eletrônicos transforma-os nas melhores opções. E guardar o papel para uma apresentação, onde precisamos ter grande atenção sem ter imprevistos de não conseguir visualizar certa parte.
ResponderExcluirIsso aí!
ExcluirGrande abraço!
Adorei ! É muito bom estar por dentro de tudo da música! Realmente, o uso do tablet é muito bom , pois ficamos com menos papeis acumulados em casa também rs
ResponderExcluirIsso mesmo.
ExcluirAbraços!
Eu prefiro o bom é velho papel rs bela matéria
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
ExcluirAbraços!
Muito legal. Acho que para ensaio o tablet é muito prático e seu tamanho maior em relação ao telefone celular facilita a visualização. Mas para apresentação ainda prefiro o bom e velho material impresso. Pois não corro o risco de esbarrar o dedo e perder a leitura.
ResponderExcluirVerdade.
ExcluirAbraços!